quarta-feira, 13 de abril de 2011

Hannover 96: a Champions é logo ali

Até a temporada passada, o Hannover 96 encontrava-se numa crise interminável. Desde o alívio de escapar do rebaixamento na última rodada com uma vitória sobre o Bochum e passando por contratações “furadas” como Arouna Koné e Elson, as coisas andavam de mal a pior. Abatido e sem perspectivas, o time ainda encontrava uma forma de superar psicologicamente a perda do capitão Robert Enke, também goleiro da seleção alemã, que se suicidou em novembro de 2009.

Entretanto, desde a confirmação da permanência na elite alemã, o Hannover emergiu das cinzas. Desde 1954, quando conquistou a Bundesliga pela segunda e última vez em sua história, o clube não fazia uma temporada tão brilhante. A equipe comandada por Mirko Slomka ocupa o terceiro lugar do Campeonato Alemão e, caso mantenha o posto, classifica-se para a Champions League 2011-12.

Desde quando retornou à primeirona, na temporada 2002-03, a melhor colocação do Hannover na Bundesliga foi um inexpressivo 8º lugar em 2007-08. Pelos números, não é muito difícil compreender que não se trata de uma das forças do país. Mesmo com um orçamento modesto, o clube se mantém estável a cada ano e agora se permite sonhar mais alto. Porém, a pergunta que fica é: será se o Hannover tem “pompa” para disputar uma competição europeia em alto nível?

Faltando cinco rodadas para o final, o Hannover (53) está um ponto a frente do atual campeão Bayern de Munique (52), que ocupa a quarta posição. Mesmo em boa situação, o time não faz contas em relação aos bávaros, e sim para o 6º colocado, até aqui o Nurnberg. Motivo? Classificam-se para competições europeias apenas os cinco primeiros na tabela. E aí a vantagem do Hannover é de 10 pontos, restando 15 em disputa. Ou seja, no mínimo, uma vaga na Europa League está encaminhada.

Contratado no início de 2010, o técnico Mirko Slomka é um dos grandes responsáveis por essa façanha. Dos reforços trazidos na janela de transferências, pouco se firmaram. O português Carlitos e o norte-americano Beasley, por exemplo, não são considerados titulares. Outros, como o zagueiro austríaco Pogatetz e o atacante norueguês Abdellaoue, hoje são peças fundamentais no esquema tático de Slomka.

Antes de mais nada, já deu pra perceber que o Hannover tem um time bastante “globalizado”. Pelo menos dentro das quatro linhas, a equipe se entende perfeitamente. O esquema tático é basicamente o 4-4-2 em linha, variando para o 4-2-3-1. Do time considerado titular, apenas cinco jogadores são alemães. Slomka deu uma nova cara ao time, tornando-o agressivo, envolvente, que não se intimida frente aos grandes. O time que só havia marcado 43 gols em 2009-10, nesta época já fez 42 em cinco jogos a menos.

A dupla de ataque formada pelo marfinense Didier Ya Konan e pelo supracitado Abdellaoue explica esse sucesso. Os dois somam nada menos que 22 gols, pouco mais da metade dos tentos marcados pela equipe. Outro trabalho do comandante foi corrigir o sistema defensivo, que havia sido o mais vazado da temporada anterior da Bundesliga. Cherundolo, Haggui, Pogatetz e Schulz disputaram praticamente todas as partidas. Apenas a disputa pela titularidade no gol continua em aberto: Fromlowitz ou Zieler.

Outra virtude de Slomka é a facilidade em mesclar juventude e experiência. Certamente o período em que coordenou as categorias de base do Hannover entre 1998 e 99 contribuiu nesse sentido. Com isso, jovens como Stoppelkamp, Schmiedebach e Stindl ganharam espaço e frequentemente aparecem no onze inicial. Contudo, o grande destaque é o /90 Konstantin Rausch, meia que atua deslocado pela esquerda e faz parte do selecionado sub-21 germânico, além de somar 3 gols e 4 assistências na liga.

A empolgação de atletas, comissão técnica e torcedores é evidente. Ya Konan diz que “se Deus permite essa oportunidade de disputar a Champions, eles tem de aproveitar”. O português Sergio Pinto vai além e afirma que “não há dúvidas de que o Hannover estará em uma competição continental na próxima temporada”. A torcida tem feito sua parte. No duelo do último sábado contra o Mainz, quase 50 mil pessoas lotaram as arquibancadas da AWD-Arena. Aliás, jogando em casa, o time possui a melhor campanha da liga, com 34 pontos, e acumula cinco vitórias seguidas.


Independente do torneio continental a ser disputado, o Hannover já começa a se preparar para a temporada seguinte. A diretoria trabalha com a possibilidade de, no mínimo, trazer quatro ou cinco reforços, todos “dentro da razão e do realismo”. O desmanche também precisa ser contido. Jogadores como Konan, Abdellaoue, Pinto e Rausch alcançaram relativo destaque e estão na mira de outras equipes. Ao que parece, o único nome certo fora do clube é o de Fromlowitz, que ainda não renovou seu contrato.

Entretanto, não basta chegar ao topo. É preciso tirar proveito do novo patamar alcançado, o que Wolfsburg e Stuttgart, alguns dos campeões alemães nesta década, não conseguiram fazer. Gastaram milhões e hoje brigam para não serem relegados à segundona. Por isso o Hannover deve aceitar o desafio sem tirar os pés do chão. A nível continental, dificilmente conquistará grandes resultados num futuro próximo, mas tende a crescer. E acumular experiência é o primeiro passo.

sábado, 2 de abril de 2011

Festa do interior!


Final de turno com casa cheia, jogo emocionante, polêmico...nem parece que estamos falando de Campeonato Amazonense. A festa protagonizada pelas torcidas de Penarol e Nacional nas arquibancadas do Floro de Mendonça, em Itacoatiara, foi uma prova de que o torcedor ainda nutre esperanças pelo futebol local. Foram mais de 2.500 pessoas (capacidade máxima) presentes no Florão.

Me arrisco a dizer que, atualmente, o Penarol é o clube mais bem estruturado do Amazonas. É um clube bem dirigido, conta com bons jogadores para o padrão do nosso futebol e tem uma torcida que comparece em peso em todas as partidas (e que deu um verdadeiro espetáculo na tarde de hoje). Em menos de um mês no comando, Uidemar Ferreira, ex-jogador do Flamengo, já conquista seu primeiro título no clube.

O Nacional também faz um bom trabalho, porém a diretoria agiu tardiamente na busca por reforços. Igor, Tairone, Felipe, Gauchinho e Catatau chegaram há pouco tempo e ainda se ambientam ao clube. No fim das contas, o título decidido no interior ficou por lá mesmo. O Penarol começou a partida com mais atitude. O trio Kitó, Charles e Thiago Verçosa deu trabalho no setor ofensivo e, Charles, um dos artilheiros da Série D do ano passado, abriu a contagem para os donos da casa.

Com a saída do lateral Celsinho, contundido, Uidemar optou pela entrada do meia Negretti. A alteração expôs o time e mexeu com o esquema tático. Num lance isolado, o Naça arrancou o empate com Santiago. Winck encontrou em Edinho Canutama, ainda longe de suas melhores condições físicas, a solução para os problemas ofensivos do time, que se movimentava pouco. E o artilheiro incomodou demais a defesa itacoatiarense, apesar de ter passado em branco.

O jogo caiu de produção na etapa final, mas o clima das arquibancadas continuava deixando a partida atrativa. No fim das contas, o heroi do duelo acabou vindo do banco de reservas. Uidemar apostou no atacante Marinho e, faltando pouco menos de dez minutos para o apito final, o suplente balançou as redes. A conquista ainda não definiu o Campeonato Amazonense, mas já garante o Penarol na Copa do Brasil do ano que vem.

Não custa lembrar que, ainda este ano, o Penarol estará na disputa da Série D. Assim como o América no ano passado (e, oremos, sem trapalhadas da FAF), o time tem condições de lutar pelo acesso. E ao contrário do Mecão, o clube terá um estádio para mandar seus jogos: o Floro de Mendonça, que terá sua capacidade ampliada para cinco mil pessoas. O título do Penarol também evidencia uma nova tendência no nosso futebol: a força do interior. E tudo que engrandeça o nosso futebol é bem vindo. Parabéns, Penarol!

sábado, 26 de março de 2011

Rennes: O futuro é o presente

Pra quem não conhece, a Copa Gambardella é a competição de base mais prestigiada do futebol francês. Digamos que equivale a “nossa” Copa São Paulo no quesito importância, porém com a disputa se estendendo por toda a temporada. Nas últimas nove edições, apenas uma equipe conseguiu conquistar esse título por mais de uma vez: o Rennes, em 2003 e 2008.

Esta superioridade não é mera coincidência. Quando François Pinault assumiu a presidência do clube, em meados de 2000, a academia de jovens estava completamente subutilizada. Diante dessa situação, Pinault não hesitou em quadruplicar os investimentos na base e agora colhe os frutos.

A geração campeã em 2008, por exemplo, só começou a ganhar espaço no time principal nesta temporada, casos de M’Vila, Brahimi, Souprayen, Théophile-Catherine e Camara. O grupo campeão em 2003 também foi de suma importância, mesmo porque se transformou no símbolo da nova filosofia do clube. Gourcuff, Briand, Faty e Bourillon foram os protagonistas daquele elenco, com destaque para os dois primeiros.

Cada uma destas gerações tem suas particularidades. A de 2003, por exemplo, foi moldada numa época em que o Rennes convivia com acumulação de dívidas, contratações mal planejadas e até mesmo a sombra do rebaixamento. A situação mudou com a chegada de Pinault, que estabeleceu um objetivo a médio/longo prazo para a nova política do clube: 50% dos jogadores do elenco principal formados da base.

Laszlo Bölöni foi o encarregado pela integração destes jovens ao time profissional. Gourcuff e Briand despontavam como as grandes promessas, mas diante das necessidades, os defensores Faty e Bourillon inicialmente foram os mais utilizados. Mvuemba e N’Guema, que também demonstravam alguma qualidade, foram aproveitados de maneira mais moderada – hoje o primeiro faz sucesso com a camisa do Lorient. Outros, como Jonathan Bru e Arthur Sorin, foram completas decepções.

O 4º lugar conquistado nas temporadas 2004-05 e 2006-07 foram os melhores resultados desta geração. Entretanto, na parte financeira, o Rennes não soube aproveitar o potencial de cada jogador. A venda de Gourcuff para o Milan por irrisórios 3,5 milhões de euros evidencia essa situação. Com Jimmy Briand, por exemplo, os Rouges arrecadaram seis milhões de euros na temporada passada.

Em 2008, os campeões da Copa Gambardella tiveram muito mais tempo para serem lapidados, mesmo porque o time principal conquistara a Copa da França e havia engatado uma série invicta de 18 partidas. Para não manter seus prodígios inutilizados, o clube adotou uma estratégia inteligente: cedeu-os para diversas equipes da Ligue 2 para ganhar experiência. À exceção do ótimo M’Vila, este processo aconteceu com todos. Apenas Le Tallec não tolerou tal condição e migrou para o Borussia Dortmund.

E foi a partir desta experiência que o clube analisou aqueles que tinham condições de serem aproveitados nas épocas seguintes. O meia-atacante Brahimi, no Clermont-Foot, e o lateral Souprayen, no Dijon, foram os que mais impressionaram. Outros, como Lasimant e Le Marchand, perderam espaço de forma definitiva. Théophile-Catherine e Camara, em menor proporção que os supracitados Brahimi e Souprayen, ainda faziam parte dos planos.

Mas é apenas na atual temporada que estes jovens assumem o papel de protagonistas. M’Vila, por exemplo, já assumiu inclusive a titularidade da seleção francesa. Brahimi e Souprayen integram o plantel sub-21 dos Bleus. A valorização do contrato de cada um desses atletas é parte integrante da filosofia do clube. Momentaneamente, o Rennes ocupa o 3º lugar e estaria classificado para a Champions League da próxima temporada. A distância para o líder Lille é de 5 pontos.

Um dos fatores básicos para que um projeto desta grandeza se concretize é acreditar na eficácia do mesmo num futuro próximo. Nesta temporada, os Rouges já desfrutam de um novo patamar. O futuro é ainda mais promissor, visto que essa geração ainda não atingiu seu potencial máximo. Não há dúvidas de que, à medida que este trabalho tenha continuidade, o Rennes tem tudo para se estabelecer como uma das forças do futebol nacional.

domingo, 20 de março de 2011

Di Natale: o goleador absoluto da Velha Bota

Ele nunca jogou em um clube de ponta, não é um jogador novo, mas sem sombra de dúvida, é um dos destaques do Calcio nas últimas duas temporadas. O nome dele? Antonio Di Natale, 33 anos, atacante da Udinese. Só 1,70 m e muito faro de gol. É o artilheiro da Serie A com 25 gols, cinco a mais que o uruguaio Edinson Cavani, do Napoli.

A equipe da tradicional cidade de Udine vive uma realidade diferente nesta temporada, ocupando o 4º lugar – muito mais expressivo do que o modesto 15º posto na última época. A única semelhança entre estes momentos opostos é o faro de gol apurado de Di Natale, que disputa rodada a rodada com Messi e Cristiano Ronaldo a chuteira de ouro da Europa.

Di Natale respira futebol desde pequeno. Torcedor fanático do Napoli e fã de Maradona, que explodia nos Partenopei na segunda metade da década de 80, nunca vestiu a camisa do clube do coração (e de sua cidade), surgindo em destaque para o futebol com a camisa do Empoli. Após ser emprestado para times inexpressivos, como Iperzola, Varese e Viareggio, ele ganhou prestígio no time Azzurri e, como consequência pelo seu bom futebol, foi chamado para a seleção italiana, dirigida por Giovanni Trapattoni até então. O debute pela Azzurra foi em 2002, num amistoso contra a Turquia.

Rebaixado com o Empoli, Di Natale não perdeu prestígio e transferiu-se para a Udinese em 2004, após 159 jogos e 49 gols marcados com seu antigo clube. Pela Udine, participou da grande campanha na temporada 04/05, a de sua estreia. Ao lado de Di Michele e Iaquinta no ataque, comandou o time bianconeri que terminou a Serie A em 4º lugar e se classificou para a Champions League.

Aos poucos, Di Natale foi se tornando o dono do time. Iaquinta saiu, Di Michele também...Quagliarella chegou. E foi com ele que Toto fez grande dupla na temporada 07/08, na qual marcou 17 gols, até então o seu recorde. No mesmo ano, ele foi nomeado capitão do time, liderança da qual desfruta até hoje.

Di Natale participou da fracassada campanha da Itália na Eurocopa de 2008, eliminada nas quartas-de-final pela campeã Espanha. Por sinal, no jogo contra a Fúria, que foi pros pênaltis, Di Natale desperdiçou uma das cobranças. O baixinho também esteve presente na última Copa do Mundo, mas fracassou junto com a sua seleção, eliminada ainda na primeira fase.

Artilheiro isolado da última Serie A com 29 gols, Di Natale repete a dose nesta temporada com 25 em 25 jogos (média de um por partida). Já se passaram 30 rodadas, mas Toto perdeu as cinco primeiras em virtude de uma contusão – coincidência ou não, a Udinese perdeu as quatro primeiras e empatou uma. Mas ao contrário da última época, quando Di Natale carregou o time praticamente nas costas, agora ele divide a responsabilidade com um muito mais inspirado Alexis Sánchez, que desandou a fazer gols.

Com um ataque muito mais produtivo, a Udinese tem o melhor ataque do Italiano com 56 gols (44,7% deles marcados por Di Natale). A equipe briga por uma vaga na Champions League da temporada seguinte, porém os mais otimistas já falam em título da Serie A. Considerando uma diferença de apenas 6 pontos para o líder Milan, não é nada irreal. E muito se deve a Di Natale, que faz um brilhante trabalho no clube há um bom tempo.

Após recusar proposta da Juventus na temporada passada, caso a Udinese se classifique para a UCL, Di Natale provavelmente fará parte dos planos. Isso porque o clube também encontra no chileno Sánchez a possibilidade de encher os cofres ao fim da temporada, mesmo com o artilheiro italiano ainda muito valorizado no mercado.

Dos jogadores em atividade, Di Natale é o sexto maior artilheiro da Serie A. E fique de olho, pois ele corre atrás de outro recorde: caso balance as redes 11 vezes nas oito partidas restantes, Toto iguala o italiano Gino Rossetti, do Torino (1928-29) como o maior artilheiro do campeonato nacional em apenas uma temporada. É difícil, mas não impossível para quem lidera uma das principais épocas da Udinese em toda sua história e já soma mais de 110 gols pelo atual clube.

sexta-feira, 18 de março de 2011

UCL e UEL: Prévia das quartas-de-final


As duas competições mais importantes do futebol europeu, Champions League e Europa League, conheceram os respectivos cruzamentos de suas quartas-de-final nesta sexta-feira. Antes de conferir as prévias de cada confronto, convido vocês a testemunharem um fato curioso acontecido ainda ontem, quando todos ainda não sabiam quais seriam os duelos. Bem, os da Champions eu já sabia (CLIQUE AQUI).

Champions League

Schalke 04 x Internazionale

Há 14 anos, também com favoritismo para os italianos, Schalke e Internazionale decidiam o título da extinta Copa da UEFA. Naquela ocasião, os alemães surpreenderam e levaram o trofeu pra casa. Além desta doce lembrança, os Azuis Reais também apostam no novo fôlego que a equipe ganhou com a chegada do técnico Ralf Rangnick, em substituição a Felix Magath. Só que desta vez fica difícil acreditar que a Inter, de Sneijder, Eto’o e Zanetti (que estava na decisão em 97), novamente tropece num conturbado time do Schalke, muito mal das pernas no Campeonato Alemão.

Manchester United x Chelsea

Os finalistas da Champions League 08/09 protagonizarão o grande clássico desta fase. A liderança da Premier League ilustra o ótimo momento vivido pelo Manchester United, que mesmo jogando apenas pro gasto nas últimas partidas, se impõe em relação as outras equipes. O Chelsea ainda tenta se encaixar, principalmente no setor ofensivo, onde Carlo Ancelotti ainda não encontrou o esquema tático ideal para Fernando Torres e Didier Drogba jogarem juntos. Os Red Devils devem levar a melhor.

Barcelona x Shakhtar Donetsk

Qualquer prognóstico contra o Barcelona é irreal neste momento, mas é bom não considerar este confronto definido. O Shakhtar tem uma equipe que já atua junta há várias temporadas e tem feito bonito no cenário europeu nesta época, liderando uma chave que contava com o Arsenal e vencendo duas vezes a Roma nas oitavas. Mudar seu estilo de jogo também não seria problema para os ucranianos. Mas como diria Ronaldinho Gaúcho: Barcelona é Barcelona. Certamente serão dois duelos de se apreciar.

Real Madrid x Tottenham

A torcida merengue implorava para o Barcelona não atravessar o caminho do Real Madrid tão precocemente. A preferência era pelo Schalke, do mítico Raúl, mas o sorteio colocou o Tottenham como adversário. Aliás, poderemos ter o superclássico espanhol já nas semifinais, caso Real e Barça se classifiquem. Mas o Spurs vem com moral: não levou gol do eficiente ataque do Milan em duas partidas e contará com Bale, Modric e o ex-merengue Rafael van der Vaart com 100% da forma física ideal. A decisão ficará pro White Hart Lane, e não se surpreendam caso o Tottenham leve a melhor.

Europa League

Braga x Dinamo Kiev

O confronto menos badalado das quartas da UEL evidencia as grandes forças da competição nesta temporada: o futebol português e o do Leste Europeu. O Braga faz uma temporada mediana na Liga Sagres, mas tem um time compacto e eliminou o Liverpool. Mas o Dinamo Kiev é fortíssimo jogando em casa, podendo levar uma boa vantagem para a partida de volta, em Portugal. Aposto no selecionado de Shevchenko e cia.

PSV Eindhoven x Benfica

Praticamente morto na briga pelo título do Campeonato Português, o Benfica deverá concentrar suas forças na Liga Europa e pode se dar bem. A legião de sul-americanos formada por Cardozo, Gaitán, Salvio e outros tem feito bonito e vai dar trabalho ao PSV, que aposta suas fichas no ótimo Dzsudzsák. Entretanto, como ainda precisa consolidar sua liderança na Eredivisie, deve abrir espaço para o Benfica entrar com maior motivação e levar a vaga.

Spartak Moscow x Porto

O Porto é o virtual campeão português e o Spartak Moscow iniciou a temporada russa só na semana passada. São dois times que jogam pra frente, e por isso a promessa é de muitos gols. Com a camisa do Dragão, Hulk já soma 29 gols na temporada. O Spartak aposta na dupla brazuca Alex e Welliton, que atropelou o Ajax nas oitavas-de-final.

FC Twente x Villarreal

O Villarreal concentra suas forças na briga pelo terceiro lugar do Campeonato Espanhol. O Twente está vivo na briga pelo título da Eredivisie. Conclusão: pra ambas as equipes, a Liga Europa é segundo plano. Os holandeses decidem em casa, mas os espanhois têm um time melhor e devem alcançar às semifinais. É o confronto mais imprevisível desta fase.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O saco de pancadas da Ligue 1

Avignon é uma cidade francesa cercada de história. Ficou conhecida entre 1309 e 1377 como “Cidade Papal”, devido ao fato da mudança da residência do papa de Roma para Avignon. Mais de 600 anos se passaram e a cidade ainda reflete o impacto deste período histórico, através de inúmeras atrações. O rio Ródano e o tradicional festival de teatro de Avignon também contribuíram para que a cidade recebesse o título de “capital europeia da cultura” em 2000.

Razões não faltam para este povo se orgulhar de sua terra. A não ser que o assunto seja futebol. É bem verdade que a origem do Arles-Avignon está na província de Arles, mas no ano passado, o clube mudou-se para Avignon e adotou o nome da cidade vizinha. A partir da temporada 2006-07, os Leões fizeram história ao emplacarem três acessos em quatro anos, alcançando uma classificação inédita para a disputa da Ligue 1.

Só que um período turbulento estava por vir. Em 27 jogos até aqui, pasmem, o Arles-Avignon venceu apenas uma partida na elite francesa. UMA. Foi há quatro meses, quando o time aplicou 3 a 2 sobre o Caen. A equipe também possui o pior ataque, a pior defesa e o pior saldo da atual temporada da Ligue 1.

É uma sucessão de recordes negativos. Com 12 pontos, o time está próximo de se tornar o pior da história da competição. Essa marca pertence ao Brest, que somou 15 pontos em 1979-80, quando uma vitória ainda valia apenas dois pontos (com as regras atuais, a pontuação do Brest aumentaria pra 19). As oito derrotas nas oito primeiras partidas da Ligue 1 também se convertem em um recorde negativo do Arles.

O único recorde negativo que o Brest 79-80 supera o Arles-Avignon 10-11 é o número de pontos somados nas primeiras 27 rodadas. Enquanto o Arles-Avignon acumula 12 até aqui, o Brest só havia feito nove (que seriam dez no atual método de pontuação). O número de vitórias dos times neste período é o mesmo: apenas uma.

Diante de um aproveitamento beirando os 14%, o rebaixamento parece inevitável. Restam 33 pontos em disputa, mas a distância para o primeiro time fora da zona da degola, o Monaco, é de 17 (mais da metade da pontuação restante). Na temporada passada, por exemplo, o Saint-Etienne escapou da Ligue 2 com 40 pontos.

E ainda que pelas atuais circunstâncias seja praticamente impossível escapar do descenso nessa temporada com essa pontuação, a situação do Arles-Avignon já seria dramática: seria necessário obter 28 dos 33 pontos em disputa para o time escapar, ou seja, vencer 10 dos 11 jogos que restam. Para uma equipe que só venceu uma partida em 27, não é necessário falar muita coisa, né?

O rebaixamento já era previsível, mas não de uma maneira tão vexatória. O investimento do clube é incomparável ao das outras equipes, além do mesmo já ter atravessado diversos problemas administrativos. Um deles por pouco não impediu o time de ascender a Ligue 1, devido a irregularidades em sua gestão financeira.

Jogadores como Meriem, Rocchi, Ghilas e Kermorgant chegaram ao clube, mas nenhum convenceu. O destaque do time, o atacante marfinense Franck Dja Djédjé, além de não ser tecnicamente encantador, encontra-se lesionado – assim como Merville, Baldé, Germany, Diawara e Ben Idir.

Outros importantes na campanha do acesso, como Andre Ayew, Benjamin Psaume e Michel Estevan, não renovaram com o clube para a atual temporada. As grandes contratações para a temporada foram os gregos Basinas e Charisteas, campeões da Eurocopa em 2004, mas o primeiro teve seu contrato rescindido dois meses após sua chegada e o segundo disputou apenas seis partidas, transferindo-se para o Schalke.

E, por incrível que pareça, as expectativas futuras do clube estão longe de serem preocupantes. O projeto de construção de um centro de treinamento já está em andamento, enquanto a comemoração do centenário do clube já tem data marcada: 19 de dezembro de 2012, com direito a exposições, publicação de um livro com a história do clube e uma noite de gala com a presença de ex-jogadores e dirigentes.

Até lá, o Arles não deverá mais estar na Ligue 1, mas leva consigo uma lição para não repetir os mesmos erros em oportunidades futuras. De qualquer forma, a inédita experiência de enfrentar as melhores equipes do país também ficará na história do clube. E, acreditem, não apenas de uma forma negativa.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Tottenham 0x0 Milan – Análise


Jogando em casa com a vantagem de empatar por qualquer placar para se classificar, o Tottenham cozinhou o jogo contra o Milan e carimbou sua vaga nas quartas-de-final da Champions League pela primeira vez na história.

Harry Redknapp adotou uma estratégia cautelosa – e igualmente arriscada – para conter os rossoneri. Em seu habitual 4-4-1-1, o Tottenham deu espaço para o Milan ficar com a posse de bola e, apenas no seu campo de defesa, fazia uma marcação apertada e saía pros contra-ataques.

Aliás, à exceção de algumas escapadas de Lennon pela direita, os ingleses pouco ameaçaram o adversário, sobretudo pelas atuações abaixo da crítica de Modric e van der Vaart. Outro ponto negativo foi o time jogando excessivamente em função de Crouch, levantando muitas bolas na área e, consequentemente, explorando pouco a qualidade individual de seus armadores.

Já o Milan fez uma boa partida, mas pecou pela falta de agressividade. Na função de “regista”, uma espécie de primeiro volante que determina a saída de bola do time, Seedorf foi o grande destaque do time. Na ausência de Pirlo, o holandês já havia feito em algumas oportunidades esta função. Boateng retornou ao time titular, mas não como trequartista – função que Robinho vem executando muito bem.

Com uma linha ofensiva formada por Robinho, Pato e Ibrahimovic, o Milan ficou devendo, ainda que Gomes tenha feito diversas intervenções, consagrando-se como um dos destaques do jogo. Outro brasileiro que esteve impecável foi o volante Sandro, que se desdobrou no meio-campo do Tottenham do início ao fim da partida.



No segundo tempo, Allegri lançou Antonini e Strasser sem nenhuma necessidade – muito pela falta de opções no banco, é bem verdade. Do outro lado, Redknapp foi extremamente cauteloso. Primeiro colocou Bale na vaga de van der Vaart, trazendo Pienaar para o meio e liberando o galês (que pouco apareceu) pela esquerda. Depois sacou o próprio Pienaar para a entrada de Jenas, fechando ainda mais o meio e, no fim do jogo, trocou Crouch por Pavlyuchenko.

Conclusão: o Tottenham jogou com o regulamento debaixo do braço e fez valer a vantagem. O time tem capacidade de fazer muito mais do que fez nos dois jogos, mesmo porque jogadores como Modric, Bale e Vaart ainda recuperam a forma física ideal. Uma classificação sem brilho, porém justa. E não vejo as classificações de Schalke, Shakhtar e do próprio Tottenham como ‘demérito’ para a competição. Foram os melhores e mereceram classificar. Azar de quem ficou pelo caminho.

domingo, 6 de março de 2011

Castaignos: futuro homem-gol holandês

Texto publicado no antigo espaço do blog em 24.10.10 (e devidamente atualizado)

A Holanda é historicamente um berço de grandes centroavantes. Kluivert, van Nistelrooy e o lendário van Basten são alguns dos nomes que ilustram essa afirmação. Atualmente, a bola da vez é o promissor Luc Castaignos, de apenas 18 anos, atacante do Feyenoord e também da seleção sub-19 holandesa.

O jovem atacante tem uma história curiosa. Filho de pai francês e mãe cabo-verdiana, ele nasceu em Schiedam, no sul da Holanda, criado num bairro problemático e com um grande número de imigrantes, tais como seus pais. No futebol, desde os cinco anos fazia parte das canteiras do Excelsior Rotterdam, até ser descoberto em um torneio mirim e despertar o interesse do Sparta, clube que o levou com 13 anos.

Sua passagem pelo Sparta foi rápida. Aos 14 anos, ele passou a vestir as cores do Feyenoord, cujo time representa até o momento. O que impressiona é o fato de sua carreira ter decolado tão rapidamente. Com 15 anos, Castaignos já compunha o elenco sub-17 da Oranje, disputando a Euro sub-17 (vice-campeão) e também o Mundial Sub-17. Em ambos, conseguiu bastante destaque. Os números comprovam: ele simplesmente é o maior artilheiro da história da categoria sub-17 da seleção nacional.

Em 2008, Castaignos assinou seu primeiro contrato profissional com o Feyenoord. Foi utilizado em alguns jogos da temporada 09-10 e faz parte do atual plantel comandado por Mario Been. Nem a péssima campanha de seu time, que ocupa o 13º lugar, parece atrapalhar seu desenvolvimento. Nesta temporada, ele tem sido o grande alento do time, marcando 10 gols até aqui (29% dos gols do time na competição).

A titularidade é questão de tempo. Castaignos é um atacante raro. Apesar da altura (1,88m) e do bom porte físico, surpreende pela velocidade e explosão. Além disso, tem técnica, oportunismo e não é estático na área, podendo também fazer a função de ponta. Não é o tipo de jogador que desperdiça oportunidades e muito menos se esconde do jogo. Com o tempo, tem tudo pra amadurecer e corrigir alguns defeitos, como a dificuldade em finalizar com a perna esquerda. Futuramente, tem tudo pra se encaixar como referência no atual 4-2-3-1 da seleção principal.

O seu potencial não escapou aos olhares dos grandes clubes e o prodígio holandês já está de saída. Castaignos se juntará a Internazionale ao fim da temporada, atuando ao lado do compatriota Sneijder. Aproveitando a deixa, fique de olho em outro jovem atacante holandês: Ricky van Volfswinkel, artilheiro do Utrecht e integrante da seleção sub-21. A nova safra de jogadores da Laranja merece atenção. E não parece exagero dizer que Castaignos é o grande líder da fila.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O último sobrevivente

Que o momento do futebol do norte não é dos melhores, todo mundo já sabe. E mais uma vez este panorama ficou escancarado, desta vez na primeira fase da Copa do Brasil. Dos nove nortistas que disputaram o torneio, apenas o paraense Paysandu segue na disputa (que eliminou outro nortista, o amazonense Penarol).

A situação é tão dramática que o Papão não inspira nenhuma confiança de que a região continuará sendo representada nas próximas fases da competição. O adversário agora é o Bahia, mas o grande rival do Paysandu tem sido o próprio time. A crise tem dominado o ambiente na Curuzu, muito pelo péssimo rendimento do bicolor, que em nove jogos na temporada, sofreu nada menos que 19 gols (compensados pelos 24 marcados, mas insuficientes para minimizar as críticas).

Após a derrota para o São Raimundo no último fim de semana pelo Parazão, o Paysandu disputava uma vaga na CB contra o Penarol podendo perder por até um gol de diferença. Abriu 2 a 0 e consolidou a classificação até os minutos finais. O desenho da reconciliação com a torcida era o mais perfeito possível, até o time amazonense marcar dois gols nos últimos três minutos de jogo e provocar a fúria do torcedor dos donos da casa, que vaiou muito o seu time após o apito final.

O empate não tirou a classificação do Paysandu, mas deve custar o emprego de Sérgio Cosme. Nos bastidores do clube, cresce a possibilidade de Givanildo Oliveira (novamente) assumir o comando da equipe. A diretoria ainda não se desfez do atual técnico, mas tratou de dispensar 11 jogadores nesta quinta-feira, incluindo alguns que sequer entraram em campo. O zagueiro Tinoco e o atacante Cleison Rato são os mais conhecidos.

Dois dos poucos jogadores que vem sendo poupados pela torcida são o meia Rafael Oliveira e o atacante Mendes. O primeiro é o artilheiro isolado do time no estadual, com 11 gols e já é cotado para transferir-se após o Parazão. O segundo é aquele velho conhecido de times como Juventude, Vitória e Bahia. Aliás, este é um dos atletas que mais interagem com a torcida, através do twitter.

O elenco ainda conta com figuras conhecidas como Alex Oliveira, ex-Vasco, o goleiro Ney, ex-Paraná (criticadíssimo pela torcida, que implora pela titularidade de Alexandre Fávaro) e, no banco de reservas, Sandro Goiano, ex-Grêmio e Vanderson “Pitbull”, ex-Vitória. É um time inconstante, sobretudo no setor defensivo, mas que com a chegada de um novo treinador, pode sofrer uma “chacoalhada”. Até o momento, nada que inspire confiança. Assim como o nosso futebol do norte.

Os eliminados

Rio Branco-AC (x Atlético/PR)
Trem-AP (x Náutico)
Fast-AM (x Fortaleza)
Penarol-AM (x Paysandu)
Águia de Marabá-PA (x Brasiliense)
Baré-RR (x Ponte Preta)
Vilhena-RO (x Avaí)
Gurupi-TO (x Paraná)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Futebol alemão – segunda força da Europa?

Um dado curioso me motivou a fazer este post: a partir da temporada 2011-12, a Alemanha superará a Espanha no coeficiente da UEFA (ENTENDA MAIS AQUI) e assumirá a segunda colocação do ranking, atrás apenas da Inglaterra. A grande questão é a seguinte: o futebol alemão seria mesmo a atual segunda força do futebol europeu?

É uma conclusão discutível, mas que na minha opinião, faz todo sentido. O Calcio definitivamente virou a quarta força europeia, e a próxima temporada será a última que a Série A oferecerá quatro vagas para a Champions League da época seguinte. Na Espanha, o campeonato nacional foi eleito o melhor do mundo a partir de um relatório da IFFHS (um tanto insignificante), mas a briga pelo título nos últimos anos está polarizada pelos gigantes Barcelona e Real Madrid. E o Real já não ultrapassa as oitavas-de-final da UCL há seis anos.

Já o futebol alemão vem na contramão da decadência do futebol italiano e da “mesmice” (digamos assim) do futebol espanhol. A Bundesliga é um dos torneios mais charmosos (e igualmente subestimados) do mundo. Além de ser um exemplo de organização, as arquibancadas estão sempre cheias, os gramados mais parecem tapetes e a competição é equilibrada e de alto nível. O Bayern de Munique está um passo à frente dos demais, claro, mas a disparidade não é da mesma proporção daquela do início da última década.

Prova disso é o Borussia Dortmund com uma mão e meia na taça nesta temporada – inclusive derrotando o Bayern em plena Allianz Arena neste sábado. Ao contrário do fiasco que o Stuttgart foi após 2006-07, ou do Wolfsburg depois de 08-09, o Dortmund tem tudo para reconstruir a sua reputação (nacional e internacional) com a conquista do título, o que configura mais uma força do futebol local.

O Schalke 04, mesmo aos trancos e barrancos, tem grandes chances de superar o espanhol Valencia nas oitavas da UCL. O Bayern, atual vice-campeão da Champions, só não elimina a Internazionale (algoz em 09-10) nesta mesma fase da competição salvo um milagre. O Bayer Leverkusen faz ótima campanha na Europe League e fará um bom duelo contra o Villarreal, também pelas oitavas-de-final. Enquanto isso, o futebol italiano não tem mais nenhum representante na UEL e deve perder seus últimos três na UCL.

Certeza mesmo apenas a de que, a partir de 2012-13, a Bundesliga passará a oferecer quatro vagas para a Champions League. São números que ilustram o novo patamar do futebol alemão no cenário europeu, mas que muitos ainda relutam em aceitar. Seria mesmo o Deutscher Fußball a atual segunda força do futebol do Velho Continente?

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Análise: PSG 2x1 Toulouse

Um jogo muito aberto no Parc des Princes. O PSG confirmou o favoritismo atuando em casa (onde não perde há quatro meses), mas o Toulouse vendeu caro a derrota. Aliás, a história do jogo tinha tudo pra ser diferente. Quando o TFC ainda reclamava um pênalti em M’Bengue, Sissoko foi derrubado na área e, dessa vez, o árbitro marcou.

Paulo Machado teve a chance de deixar os visitantes numa boa, administrando a vantagem e explorando os contra-ataques. Mas com a bola pra fora, também se foram todas as esperanças do Toulouse em ganhar o jogo.

Não foi das melhores exibições do Paris Saint-Germain nesta Ligue 1. O time sentiu demais a ausência de Nenê, que devido a uma conjuntivite, foi vetado pra este duelo. Luyindula o substituiu, enquanto o técnico Antoine Kombouare também optou por Bodmer na vaga do turco Erdinc, compondo a linha de três ofensiva do meio-campo. Com isso, o rendimento da equipe no ataque passava diretamente pela inspiração de Giuly, que encontrou facilidades às costas de M’Bengue pelo flanco direito.



Aliás, as duas equipes utilizaram bastante aquele setor do campo. Giuly tinha a companhia de Jallet na construção de jogadas, mas o Toulouse respondia na mesma moeda com a dupla M’Bengue e Tabanou. Pelo meio, a marcação das duas equipes era implacável, sobretudo por parte do TFC, onde Capoue teve mais uma excelente exibição.

Mas o baque do pênalti perdido foi fundamental no andamento do jogo. O PSG passou a jogar mais no campo de ataque e marcou dois gols nos últimos 20 minutos do primeiro tempo, com Armand e Bodmer. Nesse ínterim, Valverde operou um milagre numa finalização de Tiéné e Jallet acertou o travessão.

O segundo tempo freou o ímpeto do PSG. O Toulouse cresceu no jogo a partir da entrada de Braaten no lugar do abatido Machado, e principalmente pelo gol mal anulado de Luyindula, que praticamente definiria o jogo a favor dos parisienses. Num lançamento espetacular de Didot, Armand errou o corte e Tabanou concluiu sem chances para Edel.

Nos últimos minutos o Toulouse se lançou com tudo para o ataque. A partir dos 40 minutos, apenas os zagueiros Congré e Capoue (este improvisado com a saída de Fofana para a entrada do meia Mansaré) ficavam no campo de defesa. Só que a pressão não se converteu em gols. Infelizmente para este que vos escreve, torcedor declarado do TFC.

O Paris Saint-Germain alcançou o terceiro lugar e está mais vivo do que nunca na briga pelo título. Já o Toulouse se mantém estável em 11º, mas novamente não deve brigar por uma vaga nas copas europeias.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Villarreal 2x1 Napoli: Análise

Sabe aquela velha teoria do mata-mata de que a equipe que faz o jogo da volta em casa tem vantagem em relação ao adversário? Pois bem, a fase de 16-avos da Liga Europa reafirmou essa tese. Nada menos do que 14 das 16 equipes que decidiram a classificação como mandante estão classificadas para as oitavas-de-final. E uma delas é o Villarreal (gostou da rima?), que venceu o Napoli por 2 a 1 no El Madrigal (rimei de novo!).

No fim das contas, venceu o time que estava mais compromissado com a partida. Não que o Napoli estivesse desdenhando da competição, mas o fato é que a cabeça de jogadores, comissão técnica e torcedores estavam e agora estão ainda mais no duelo contra o Milan no próximo fim de semana, pelo Campeonato Italiano. Está em jogo a liderança da Serie A, já que o time rossoneri é o líder e os Azzurri vem logo atrás.

Neste dilema de poupar ou não poupar jogadores, Walter Mazzarri decidiu preservar alguns titulares. Maggio, Cannavaro, Pazienza e até o artilheiro Cavani ficaram no banco de reservas. Aronica nem foi relacionado. Só o sistema tático que não foi alterado: o 3-4-2-1. Zuñiga era um apoio mais constante pela direita do que Dossena pelo outro flanco, enquanto Hamsik e Lavezzi eram os responsáveis pela ligação dos contra-ataques. Foi assim que surgiu o gol, marcado por Hamsik, e as outras várias chances desperdiçadas pelo time italiano.

Podendo tomar até um gol para se classificar, o Napoli se acomodou. E foi aí que o Villarreal começou a crescer no jogo. Passou a pressionar os italianos na saída de bola e forçar o erro do adversário. E nas chances que tiveram, os espanhois foram letais. Ainda no primeiro tempo, Nilmar e Rossi viraram o jogo, em duas assistências de Borja Valero – por sinal, bela aquisição do Submarino Amarelo nessa temporada.



Villarreal no 4-4-2 (ou 4-2-2-2, como queiram), com Cazorla trazendo a marcação de Victor Ruiz pelo flanco direito de ataque e deixando Rossi e Nilmar no combate com Cribari e Campagnaro - no qual os jogadores do Submarino levaram a melhor. Bruno e Borja Valero foram dois leões em campo. O Napoli empacou na noite pouco inspirada da dupla Hamsik - Lavezzi, sobretudo na finalização, e também na apatia da equipe como um todo.

Cavani entrou no início do segundo tempo e teve chances de mudar a história do jogo, mas não foi suficiente. Embalado pela torcida, o Villarreal soube administrar a partida com muita paciência. Caso priorize a Liga Europa, é time pra lutar pelo título. Garrido tem uma ótima base nas mãos. Uma defesa segura, um ataque incisivo com Rossi e Nilmar e um meio-campo sólido, sobretudo na contensão. Bruno Soriano é um dos melhores volantes espanhois na atualidade. E o supracitado Borja Valero é o “faz tudo” do time: marca bem e sai pro jogo com qualidade.

Ponto para a diretoria do Villarreal, que hoje colhe os frutos da aposta no ótimo técnico Juan Carlos Garrido, oriundo do time B. Além de montar uma equipe consistente, Garrido integrou vários jovens talentos ao time principal, como o lateral-direito Mario e o zagueiro Musacchio, ambos titulares, além de Catalá, Matilla, Gullon e até mesmo o atacante Marco Ruben, que só deslanchou sob o seu comando.

Atual 4º colocado da Liga, o Submarino Amarelo tem tudo para alcançar um patamar ainda mais elevado no cenário internacional. Quanto ao Napoli, no fim das contas, a eliminação acabou sendo benéfica. Com o foco total na Serie A, é possível que o time lute pelo caneco até as últimas rodadas.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mais um capítulo de uma velha história

Eis que a CBF, nesta segunda-feira, decidiu reconhecer o título brasileiro do Flamengo em 1987. Um atraso de 24 anos para oficializar aquilo que não há questionamento: o rubro-negro é hexacampeão brasileiro.

É algo como fazer a coisa certa pelo motivo errado. É óbvio que a entidade não mudou sua opinião de uma hora pra outra. Trata-se de mais uma jogada política de quem não cansa de deturpar a história do nosso futebol. O que a CBF chama de “pacificar um tema controvertido de longa data”, eu chamo de “vingança política”. Em suma, essa decisão tem o objetivo de tumultuar o Clube dos 13 para a Globo negociar os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro dos próximos anos.

Sim, porque o Flamengo ameaçou apoiar Fábio Koff na eleição do Clube dos 13 caso a conquista de 87 não fosse reconhecida, o que também significaria apoiar a Record na questão dos direitos televisivos. Agora que o rubro-negro e a entidade parecem estar “quites”, tudo continua do jeito que estava. Ou seja, Fla junto a Corinthians, Fluminense, Grêmio, Cruzeiro, Palmeiras e vários outros times no “time” global apoiado por Kléber Leite.

Infelizmente não precisava ser assim. O Flamengo é campeão de 1987 de fato e de direito. Quem conhece a história, sabe. Quem não conhece, recomendo tirar suas próprias conclusões a partir de um ótimo artigo do site Trivela clicando AQUI. Então qual o valor dessa reviravolta protagonizada pela CBF? Nenhum. Dane-se a resolução da presidência. Apenas confirmou aquilo que todos, mesmo com alguns resmungos, já sabiam.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O dérbi helênico


Olympiacos e Panathinaikos fazem o grande dérbi do futebol grego. Para muitos, este também é um dos maiores clássicos do planeta. Exagero? Não para quem se aprofunda nessa história cheia de peculiaridades e que ganhou um capítulo especial neste sábado. No estádio Karaiskakis Stadium, casa do Olympiacos, os mandantes venceram por 2 a 1 e deram um enorme passo para a conquista do 38º título nacional da história do clube.

O clássico também tem uma história riquíssima em outros esportes, mas é no futebol que se encontra o ápice da rivalidade. Aliás, infelizmente esse duelo vem sendo ofuscado por atos de vandalismo dentro e fora de campo. No passado, os times representavam classes sociais muito distintas. O Panathinaikos possuía o apoio da classe média/alta de Atenas, enquanto o Olympiacos tinha a sua torcida concentrada na área portuária dos Pirineus, que reunia a classe trabalhadora (operária).

Atualmente a legião de fãs dos clubes é praticamente igual socialmente, ambas apoiadas por fortes grupos econômicos e políticos. E quando o assunto é título, o Olympiacos leva vantagem. O clube possui 37 títulos gregos e 24 Copas da Grécia, enquanto o Panathinaikos soma 20 conquistas nacionais e 17 Copas - números não menos expressivos.

Ainda que o atual campeão grego seja o Panathinaikos, a supremacia nos últimos anos inquestionavelmente pertence ao Olympiacos, que desde a temporada 1996-97, só deixou dois títulos escaparem de suas mãos, ambos para o maior rival (nas temporadas 2003-04 e 2009-10). São 12 canecos nos últimos 14 anos, e a marca está muito próxima de ser ampliada. Na atual época, o OLK lidera a Superleague com 60 pontos, dez a mais que o vice-líder Panatha.

Defendendo a liderança, o Olympiacos entrou em campo como favorito para o clássico. Os comandados do espanhol Ernesto Valverde mantiveram o sistema tático 4-2-3-1, mas com o desfalque do brasileiro Dudu Cearense na meiuca. Riera, Fuster e o artilheiro Mirallas eram responsáveis por municiar o centroavante argelino Djebbour, contratado junto ao AEK por empréstimo e com opção de compra.



Escalado no 4-3-3 pelo português Jesualdo Ferreira, que recentemente dirigiu Porto e Málaga, o Panathinaikos, de Gilberto Silva, adotou uma postura cautelosa nos primeiros minutos, apostando nos contra-ataques municiados por Leto e principalmente Ninis pelos dois flancos. Só que o cuidado deu lugar ao desespero quando Mirallas abriu o placar para os donos da casa, aproveitando rápida cobrança de falta.

Na etapa final, o jogo foi dominado pelo Panathinaikos, que lutava a todo custo pelo empate. Os volantes Katsouranis e Karagounis adiantaram-se, isolando Gilberto Silva na contensão e participando da saída de bola para que ela chegasse redondinha aos três atacantes. A pressão funcionou e o gol de empate veio com Leto. E pela situação dos dois times na tabela, era compreensível que o Panatha continuasse se arriscando.

E como clássico sem polêmica não é clássico, os injustiçados da vez foram os jogadores ‘verdes’. O árbitro anulou um gol legal de Katsouranis nos últimos dez minutos de partida, quando Torosidis já havia sido expulso por agredir Leto e deixado o Olympiacos com um jogador a menos. Aos 44 minutos, Valverde colocou Zairi na vaga de Riera. Parecia uma alteração tardia, mas decidiu a partida. Em jogada de Zairi, Djebbour aproveitou confusão na área e empurrou pras redes.

Festa da torcida vermelha e branca que lotou as arquibancadas, fez festa, e infelizmente, também provocou confusão. Além de atrasar o início da partida e atirar sinalizadores no meio do jogo, os torcedores do Olympiacos invadiram o gramado após o apito final para...agredir os jogadores do Panathinaikos. Sim, eles poderiam estar vibrando com seu time, líder isolado do campeonato nacional, mas optaram pelo caminho da violência e do vandalismo. Cenas lamentáveis e que infelizmente estão virando corriqueiras no mundo da bola.

Entre os jogadores dos dois times, o clima também não foi ameno. Ao que parece, Torosidis e Leto trocaram farpas também no vestiário. E a impressão que se tem é que o clássico ainda não acabou. Gilberto Silva esbravejou no twitter e Cissé declarou em entrevista coletiva que esses são seus últimos três meses no Panathinaikos, dado os acontecimentos recentes. Mais uma vez com um asterisco, Olympiacos e Panathinaikos protagonizaram um grande duelo.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Análise: Benfica 2x1 Stuttgart

- Benfica e Stuttgart fizeram um bom jogo no Estádio da Luz. Não foi do jeito que a torcida encarnada esperava, mas os donos da casa confirmaram o favoritismo e venceram por 2 a 1. Aliás, pelo nível técnico e principalmente pela fase do time alemão, só um milagre tira o Benfica das oitavas-de-final da Liga Europa.

- Os sistemas táticos montados por Jorge Jesus e Bruno Labbadia foram bem semelhantes. Na ausência de Saviola, Jesus lançou Franco Jara no onze inicial do Benfica e a movimentação do argentino ditava o esquema do time: com a bola, ele encostava em Cardozo na frente e configurava um 4-1-3-2. Sem a bola, Jara formava uma linha de quatro no meio-campo complementada por outros três argentinos: Salvio, Aimar e Gaitán, todos muito abaixo do que podem render.


Benfica no 4-1-4-1 variando pro 4-2-3-1 conforme o posicionamento de Jara. Por sua vez, o Stuttgart preocupou-se apenas em defender e pouco explorou os espaços pelos flancos, além de não forçar Javi Garcia a se desdobrar na marcação pelo meio. Para ver a imagem ampliada, clique AQUI.

- Já o Stuttgart decidiu jogar por apenas 21 minutos, quando abriu o placar com Harnik. Após o gol, o time recuou excessivamente e não encontrou forças para reagir quando tomou a virada nos minutos finais. Os alemães sofreram com a falta de criatividade no meio-campo, exceto por parte do estreante Okazaki, que se movimentou bem e cavou várias faltas. Acostumado a atuar como centroavante na seleção japonesa, Okazaki formou uma linha de três com Hajnal e Harnik na faixa ofensiva do meio-campo do 4-2-3-1 de Labbadia.

- A decepção ficou por conta de Cacau, absolutamente inoperante no ataque. Não levou nenhum perigo à meta de Roberto e abusou de errar passes. Faltaram também as jogadas de profundidade pelas laterais, já que Boulahrouz e Molinaro pouco se aventuraram na frente. A capacidade técnica de Hajnal também foi pouco explorada. Ele poderia funcionar como o cérebro do time, mas participou ativamente em apenas um lance no jogo, quando acertou um lançamento primoroso para Harnik sair na cara do gol e encobrir Roberto.

- Jorge Jesus corrigiu o time benfiquista no intervalo. E não precisou fazer nenhuma alteração pra isso. Faltava apenas um pouco mais de entrega da equipe, pois os portugueses mostraram-se tecnicamente muito superiores aos alemães. Maxi Pereira e Coentrao passaram a subir com frequência pelas alas, Salvio e Gaitán invertiam os lados para confundir a marcação e Aimar finalmente entrou no jogo. Após uma série de intervenções de Ulreich, possivelmente o melhor em campo, Cardozo igualou o placar. Foi o décimo gol do paraguaio na temporada.

- Mas o resultado ainda era bom pro Stuttgart, mesmo porque o time poderia jogar por um empate sem gols na partida de volta, jogando em casa. Com isso, Labbadia recuou ainda mais o time ao invés de explorar os contra-ataques na velocidade de Harnik e Okazaki em busca do segundo gol. A superioridade do Benfica foi recompensada com um golaço de Franco Jara, este que aos poucos adapta-se à cultura portuguesa e recupera o bom futebol mostrado no Arsenal de Sarandí.

- O Stuttgart jogou desfalcado, é bem verdade. Boka, Audel, Gebhart e Pogrebnyak estão de molho e Ciprian Marica foi afastado recentemente por declarar a um jornal alemão que deseja se transferir, causando um mal estar no elenco. Entretanto, nada me faz crer que os alemães possam reverter essa desvantagem. Além de ocupar a penúltima colocação na Bundesliga, o Stuttgart também vive uma crise política, com a oposição exigindo a saída do presidente Erwin Staudt e do diretor de futebol.

- Já o Benfica soma sua décima primeira vitória consecutiva e se aproxima da vaga nas oitavas. No jogo de volta, em Stuttgart, aposto em novo triunfo dos portugueses. Mas isso é papo pra daqui duas semanas.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O fim de um ciclo


- O mundo do futebol se despediu de Ronaldo Fenômeno nesta segunda-feira. Além de um grande ídolo, certamente foi um dos melhores (talvez o melhor) que vi jogar. Minha grande lembrança, como não poderia deixar de ser, é a conquista da Copa de 2002, na qual o atacante passou por cima de todos os prognósticos quanto ao fim de sua carreira e se consagrou como o artilheiro da competição.

- Estamos falando de um jogador eleito três vezes melhor do mundo. Mais do que isso: o maior artilheiro das Copas do Mundo, com 15 gols. Ronaldo não é apenas uma lenda. É um exemplo de superação. Infelizmente se aposenta num momento delicado da carreira, mas nada suficiente para manchar sua história vitoriosa nos campos.

- E como um bom manauara, me sinto no dever de relembrar os momentos do Fenômeno pelos gramados amazonenses. Não foram muitos, é bem verdade. Em dezembro de 1996, a convite da FAF (Federação Amazonense de Futebol), a seleção brasileira fez uma partida amistosa contra a Bósnia e venceu por 1 a 0. Gol de quem? Dele, Ronaldo, cobrando falta. Isso mesmo, cobrando falta! Foi o seu único gol marcado na terra dos barés.

- A título de curiosidade, também foi a última partida em que a seleção vestiu a marca da Umbro – desde então, passou a ser patrocinada pela Nike. Mas essa não foi a única aparição de Ronaldo pelo Amazonas. Em 2003, desta vez valendo pelas eliminatórias pra Copa de 2006, o Brasil enfrentou o Equador e novamente venceu por 1 a 0. Todavia, nesta ocasião, o Ronaldo que brilhou foi o Gaúcho, marcando o gol da vitória após assistência de Roberto Carlos.

- A atuação do Fenômeno foi discreta, mas nada que impedisse a segunda vitória da seleção nas duas primeiras partidas das eliminatórias. Comandada por Carlos Alberto Parreira, a seleção ainda sofreu alguns ajustes antes de protagonizar o memorável fiasco na Copa de 2006, onde Ronaldo esteve presente (fora de forma, diga-se de passagem).

- Ronaldo define este momento como “a primeira morte”. Pois que ele aproveite da melhor maneira possível esta “segunda vida”. O ciclo de Ronaldo no futebol chega ao fim, mas tudo que este camisa 9 fez por ele ficará eternizado. A nós, amantes do futebol, só nos resta agradecer.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A ignorância do torcedor brasileiro

Existe uma “cultura” no futebol, principalmente (pra não dizer apenas) aqui no Brasil, que me deixa profundamente irritado. Desculpe se estou generalizando, mas por que o torcedor brasileiro sempre crucifica um ou outro jogador pela perda de uma partida?

Roberto Carlos está deixando o Corinthians alegando sofrer ameaças por telefone – não só ele, mas também parte de sua família – e perseguição nas ruas. Tudo por causa do vexame do Timão frente ao Tolima na Libertadores. E os fatos nem precisam ser atestados: a postura daqueles que se dizem “torcedores” precisa mudar.

Na verdade, isso não é consequência da eliminação do time na competição sul-americana. Faz parte de uma unanimidade burra do torcedor e alimentada até mesmo pelos veículos de comunicação: a arte de achar um culpado pra tudo. Até quando vamos tolerar tal comportamento?

Com a eliminação concretizada, a imprensa tratou de achar os responsáveis pelo vexame. Roberto Carlos, Ronaldo, Cachito Ramirez e o técnico Tite foram os alvos. Todos merecedores de críticas, sem sombra de dúvida. Porém, assim como muitos outros na história do futebol, marcados como os únicos vilões numa derrota. É tão complicado admitir que o Corinthians perdeu como um todo? Ronaldo e Roberto sentem na pele o preço de serem os grandes nomes da equipe. Glorificados no auge, crucificados nas crises. E sem piedade.

As cenas de vandalismo vistas no último fim de semana não são retrato apenas da conivência das autoridades com tais barbaridades, mas também das pessoas que alimentam a cultura de escolher um culpado numa derrota. Parece a maneira mais adequada de esconder problemas internos, que vão muito além da limitação de uma equipe. Já passou da hora de dar um basta nesse comportamento.

A ignorância do torcedor brasileiro – Parte II

No amistoso realizado na última quarta, o Brasil foi derrotado pela França por 1 a 0 no Stade de France. Ao invés de criticar a postura do time como um todo, adivinha o que imprensa e torcedores trataram de fazer? Achar um culpado, claro. E não foi uma tarefa difícil. Hernanes, expulso após cometer falta violenta e desnecessária em Benzema na linha do meio-campo, ainda no primeiro tempo, foi o escolhido.

Óbvio que o cartão vermelho foi determinante para o andamento do jogo. O Brasil se retraiu e a França assumiu o controle da partida. Mas a nossa seleção poderia ter vencido com um jogador a menos? Claro que sim. Assim como poderia ter perdido com Hernanes em campo. Parece óbvio, mas para muitos, a compreensão é difícil. Hernanes errou, mas não foi o responsável pelo tropeço. Ou isso explica a apatia da equipe durante os 90 minutos?

Resultado: os mesmos que cansaram de pedir Hernanes na seleção quando este se destacava pelo São Paulo, agora o tratam como o ‘Anderson Silva dos gramados’. Uma pena, pois se trata de um jogador com muito talento, que faz uma excelente temporada com a Lazio e nada havia feito anteriormente em toda a carreira para ser rotulado como desleal. Hernanes é apenas mais uma vítima de uma cultura que precisa ser extinta no futebol. Pense nisso.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Orozco: o pequeno gigante da Venezuela

Texto de minha autoria publicado no Olheiros.net sobre o venezuelano Yohandry Orozco, uma das principais revelações do Sul-Americano sub-20 2011. Se quiser conferir na íntegra, clique AQUI.

Dentre os países sul-americanos, a Venezuela certamente é a de menos tradição com a bola nos pés. A base tem sido importante para o país se afirmar no plano continental, e nessa luta contínua, os venezuelanos já sediaram o Sul-Americano sub-20 em 2009 e não apenas conquistaram um honroso 4º lugar, como também revelaram jogadores como Rafael Romo, Acosta e Rondón.

Dois anos depois, a seleção vinho tinto se despede da mesma competição sem muito alarde, ainda na primeira fase. Todavia, o Sul-Americano sediado no Peru exaltou a figura de Yohandry Orozco. Com duas assistências e dois gols, incluindo um “maradoniano” contra o Peru, o polivalente meia é apontado como o futuro substituto de Juan Arango na seleção principal. Sua brilhante exibição individual no Sul-Americano foi recompensada com uma transferência para o Wolfsburg neste mercado de inverno.

Paixão hereditária

“La Perla”, como é conhecido no futebol local, vem de uma família colombiana que tentou a sorte na Venezuela. O garoto nasceu no bairro Cardonal Norte, um dos mais perigosos de Maracaibo, e desde pequeno conviveu com o futebol. Seu pai, Sadys Orozco, disputava uma liga amadora dos bairros da cidade e fazia questão de levar o filho para acompanhar os jogos.

A paixão se estendeu durante toda a infância e Orozco teve a chance de aprender seus primeiros fundamentos na equipe de futsal Rômulo Gallegos. Seu primeiro contato com os campos foi no Lotería del Zulia, sob o comando de seu próprio pai. Daí em diante, passagens pelo Centro Gallego e Casa d’Italia antecederam seu ingresso às categorias inferiores do Unión Maracaibo.

Capitão e camisa 10 do UAM desde a categoria sub-15, o jovem promissor sempre contou com total respaldo do treinador Alvaro Valencia. Orozco inclusive marcou presença em alguns gramados brasileiros numa excursão do sub-17 do Maracaibo pelo Brasil, em 2007. Na oportunidade, Internacional e Santos manifestaram interesse formal pelo jogador, prontamente rejeitados pelo clube venezuelano.

A estreia como profissional

No dia 5 de agosto de 2007, com apenas 16 anos, Orozco fez sua estreia como profissional no empate em 1x1 contra o Deportivo Anzoatégui. La Perla atuou por 72 minutos e desde então mostrou muita personalidade e intimidade com a bola. Seu primeiro gol no time principal veio dois meses depois, numa goleada por 4 a 0 sobre o Estrella Roja.

Foi o suficiente para perceber que se tratava de um jogador diferenciado. Polivalente, Orozco joga em várias faixas do meio-campo, com facilidade em atuar mais recuado, participando da saída de bola. Dinamismo, velocidade e excelente visão de jogo são algumas de suas principais virtudes. Franzino, o menino de 1,63m e 55 kg não se intimida com os implacáveis marcadores, arriscando dribles e chutes de longa distância.

O jovem prodígio se afirmava a cada jogo como o grande xodó da torcida. Mas na reta final dessa trajetória, Orozco entrou em litígio com o clube. Os empresários do atleta entenderam que o jogador não estava sendo devidamente valorizado no UAM e fizeram algumas exigências. Em crise financeira, o clube não satisfez nenhuma delas e criou-se uma grande polêmica.

Em meio a este momento delicado de sua carreira, Orozco viveu grandes experiências, como conhecer a Europa e treinar por aproximadamente duas semanas no Grasshoper, da Suíça. Ainda assim, o Maracaibo batia o pé e vetava qualquer possibilidade de transferência. Mesmo vivendo esse impasse, Orozco contou com a confiança de Cesar Farías para ser convocado pro Sul-Americano sub-20 de 2009 e pro Mundial sub-20 do mesmo ano, disputando ambos como reserva.

Desligado do Maracaibo, Orozco deu um novo rumo a sua carreira: assinou com o FC Zulia, também da Venezuela, e voltou a ser manchete pelo seu futebol. Peça-chave no esquema tático de Miguel Acosta, ele se despediu dos companheiros como o artilheiro do time na atual temporada, com 8 gols. As grandes exibições renderam-lhe a convocação para o Sul-Americano sub-20 deste ano. Mais maduro e com a técnica apurada, Orozco não só assumiu a titularidade, como também a faixa de capitão do time.

O exército de um homem só

Nas duas primeiras rodadas, os venezuelanos arrancaram empates importantes contra Uruguai e Argentina, ambos por 1 a 1. Contra a Celeste, Orozco deu a assistência para Reyes marcar. Já contra a albiceleste, o próprio Orozco tratou de fazer o dele, de cabeça. Na partida seguinte, contra os peruanos, a consagração. A Venezuela perdia por 1 a 0, quando aos 32 minutos do segundo tempo, La Perla presenteou a cidade de Arequipa com uma verdadeira obra de arte.

Ele recebeu a bola no meio-campo, e com sete toques na bola, deixou pra trás cinco marcadores e fuzilou de perna esquerda, estufando as redes. O gol à lá Maradona contra a Inglaterra na Copa de 1986, ou de Messi contra o Getafe pela Copa do Rei em 2007, não demorou a correr
o mundo inteiro.

Precisando vencer o Chile na última rodada, a Venezuela perdeu de virada por 3 a 1 e acabou eliminada, mas a projeção de Orozco no cenário mundial já estava consolidada. Segundo um de seus empresários, o jogador recebeu três propostas formais de clubes europeus: Sevilla, Palermo e Wolfsburg. A proposta vantajosa dos Lobos fez toda a diferença na escolha.

Visando facilitar a adaptação de Orozco ao futebol alemão – onde atuam os compatriotas Arango e Tomás Rincón -, o Wolfs se dispôs a arcar com casa, carro e tradutor pessoal para o jogador, além de oferecer o contrato mais largo do plantel atual do clube (até 2015). Ao que parece, a busca por um substituto de Juan Arango num futuro próximo na seleção venezuelana está encerrada.

O futuro é o presente

- Laurent Blanc assumiu a França diante de uma crise imensurável. Juntar os cacos de uma seleção abalada psicologicamente pela eliminação ainda na primeira fase da Copa e pelas polêmicas extracampo seria uma missão ingrata. O retrato inicial era, basicamente, de uma equipe envelhecida, sem comando e desgastada pelos conflitos com a Federação Francesa de Futebol.

- Oito meses depois, o clima é bem mais ameno. À medida que ainda faz alguns ajustes pontuais, Blanc também está atento a jogadores jovens que despontam no cenário nacional. A vitória sobre o Brasil no amistoso de ontem indica que esta seleção evolui progressivamente, independente de qualquer circunstância do jogo, como a expulsão de Hernanes. Os franceses jogaram bem e foram merecedores do resultado.

- Em tese, Blanc manteve o 4-2-3-1 de Domenech, porém com uma organização tática
mais bem definida. A defesa visivelmente transmite mais segurança. Aliás, Rami e Mexès tiveram atuações impecáveis, com destaque para o primeiro, apalavrado com o Valencia para o meio do ano. A movimentação dos laterais determina a intensidade das jogadas pelos flancos: enquanto Abidal fica mais preso na esquerda, Sagna tem total liberdade para apoiar pelo outro lado.

- Aliás, na cobertura do lateral do Arsenal, um jovem jogador tem se destacado: Yann M’Vila. Francês de ascendência congolesa, ele foi considerado a grande revelação da Ligue 1 09-10 atuando pelo Rennes, onde permanece até hoje, mesmo cobiçado por grandes clubes da Europa. M’Vila coleciona passagens por todas as seleções de base dos Bleus e, mesmo com apenas 20 anos, vem se mostrando mais do que pronto para assumir tal responsabilidade.

- Na contensão, a juventude de M’Vila é mesclada com a experiência de Alou Diarra, do Bordeaux. À frente, uma linha de três armadores: Malouda atua aberto pela esquerda, mas sofre com a falta de companhia pelo setor. Do outro lado, o titular na partida de ontem foi Ménez, um dos melhores em campo, ratificando sua ótima fase vivida na Roma. Entretanto, a concorrência no setor ainda conta com Ribéry, Valbuena e Nasri, que no momento encontram-se lesionados.

- Gourcuff, uma espécie de meia mais centralizado, é a grande decepção da equipe. Contratado a peso de ouro pelo Lyon, fez apenas quatro gols na temporada e também encontra dificuldades para reencontrar seu futebol de alto nível na seleção. Outro que vive má fase em seu clube é o centroavante Karim Benzema, mas este vem correspondendo pelos Bleus: contra o Brasil, marcou o gol da vitória, obrigou Júlio César a intervir várias vezes e se movimentou muito bem.

- As opções de reposição também são interessantes. Na defesa, o lateral-esquerdo Clichy é uma alternativa para oferecer mais condição de jogadas trabalhadas por aquele flanco. O jovem Mamadou Sakho, do PSG, além de versátil (atua na lateral-esquerda e na zaga), tem feito uma temporada irretocável. Outro atleta promissor conta com a confiança de Blanc: o meia Matuidi, do Saint-Etienne.

- O ótimo Cabaye, do Lille, também vem sendo constantemente chamado. Seria interessante que Blanc também voltasse suas atenções para o promissor Marvin Martin, do Sochaux. Trata-se do líder isolado de assistências da Ligue 1, com dez. Dotado de muita técnica e excelente visão de jogo, é chamado pela imprensa francesa de ‘pequeno Xavi’.

- Para fazer sombra a Benzema na frente, o grande nome desta seleção é Guillaume Hoarau, autor de 10 gols nesta temporada pelo PSG. Contudo, os holofotes também merecem estar voltados para o prodígio Kevin Gameiro, de apenas 23 anos e autor de 11 gols na temporada pelo Lorient. Gameiro já foi cotado em equipes como Arsenal, Valencia e Villarreal, e muito em breve deverá estar atuando por uma equipe maior – e, quem sabe, colocar uma pulga atrás da orelha de Blanc.

- O Marseille também apresenta bons nomes para a posição. Loïc Rémy, de 24 anos, vem sendo bastante aproveitado, mesmo com o seu companheiro Gignac vivendo uma fase melhor. Muito provavelmente o segundo acabou marcado pela má campanha da França na Copa, mesmo não se envolvendo em nenhuma polêmica. De qualquer forma, também é um jogador novo (mesmos 24 anos de Rémy), e que pode ser reintegrado ao plantel francês a qualquer momento.

- Laurent Blanc indicou o futuro desta seleção numa recente entrevista. Admite que não conta com grandes jogadores no momento, porém acredita que os jovens possam colocar a seleção francesa à frente dos ganhos financeiros. É claro que a qualidade de um início de processo de renovação não é medida apenas pelos resultados, mas pela pressão vivida por esta seleção, é bom que eles apareçam com frequência. E Blanc mostra-se a pessoa certa para recolocar os Bleus nos eixos.