quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Orozco: o pequeno gigante da Venezuela

Texto de minha autoria publicado no Olheiros.net sobre o venezuelano Yohandry Orozco, uma das principais revelações do Sul-Americano sub-20 2011. Se quiser conferir na íntegra, clique AQUI.

Dentre os países sul-americanos, a Venezuela certamente é a de menos tradição com a bola nos pés. A base tem sido importante para o país se afirmar no plano continental, e nessa luta contínua, os venezuelanos já sediaram o Sul-Americano sub-20 em 2009 e não apenas conquistaram um honroso 4º lugar, como também revelaram jogadores como Rafael Romo, Acosta e Rondón.

Dois anos depois, a seleção vinho tinto se despede da mesma competição sem muito alarde, ainda na primeira fase. Todavia, o Sul-Americano sediado no Peru exaltou a figura de Yohandry Orozco. Com duas assistências e dois gols, incluindo um “maradoniano” contra o Peru, o polivalente meia é apontado como o futuro substituto de Juan Arango na seleção principal. Sua brilhante exibição individual no Sul-Americano foi recompensada com uma transferência para o Wolfsburg neste mercado de inverno.

Paixão hereditária

“La Perla”, como é conhecido no futebol local, vem de uma família colombiana que tentou a sorte na Venezuela. O garoto nasceu no bairro Cardonal Norte, um dos mais perigosos de Maracaibo, e desde pequeno conviveu com o futebol. Seu pai, Sadys Orozco, disputava uma liga amadora dos bairros da cidade e fazia questão de levar o filho para acompanhar os jogos.

A paixão se estendeu durante toda a infância e Orozco teve a chance de aprender seus primeiros fundamentos na equipe de futsal Rômulo Gallegos. Seu primeiro contato com os campos foi no Lotería del Zulia, sob o comando de seu próprio pai. Daí em diante, passagens pelo Centro Gallego e Casa d’Italia antecederam seu ingresso às categorias inferiores do Unión Maracaibo.

Capitão e camisa 10 do UAM desde a categoria sub-15, o jovem promissor sempre contou com total respaldo do treinador Alvaro Valencia. Orozco inclusive marcou presença em alguns gramados brasileiros numa excursão do sub-17 do Maracaibo pelo Brasil, em 2007. Na oportunidade, Internacional e Santos manifestaram interesse formal pelo jogador, prontamente rejeitados pelo clube venezuelano.

A estreia como profissional

No dia 5 de agosto de 2007, com apenas 16 anos, Orozco fez sua estreia como profissional no empate em 1x1 contra o Deportivo Anzoatégui. La Perla atuou por 72 minutos e desde então mostrou muita personalidade e intimidade com a bola. Seu primeiro gol no time principal veio dois meses depois, numa goleada por 4 a 0 sobre o Estrella Roja.

Foi o suficiente para perceber que se tratava de um jogador diferenciado. Polivalente, Orozco joga em várias faixas do meio-campo, com facilidade em atuar mais recuado, participando da saída de bola. Dinamismo, velocidade e excelente visão de jogo são algumas de suas principais virtudes. Franzino, o menino de 1,63m e 55 kg não se intimida com os implacáveis marcadores, arriscando dribles e chutes de longa distância.

O jovem prodígio se afirmava a cada jogo como o grande xodó da torcida. Mas na reta final dessa trajetória, Orozco entrou em litígio com o clube. Os empresários do atleta entenderam que o jogador não estava sendo devidamente valorizado no UAM e fizeram algumas exigências. Em crise financeira, o clube não satisfez nenhuma delas e criou-se uma grande polêmica.

Em meio a este momento delicado de sua carreira, Orozco viveu grandes experiências, como conhecer a Europa e treinar por aproximadamente duas semanas no Grasshoper, da Suíça. Ainda assim, o Maracaibo batia o pé e vetava qualquer possibilidade de transferência. Mesmo vivendo esse impasse, Orozco contou com a confiança de Cesar Farías para ser convocado pro Sul-Americano sub-20 de 2009 e pro Mundial sub-20 do mesmo ano, disputando ambos como reserva.

Desligado do Maracaibo, Orozco deu um novo rumo a sua carreira: assinou com o FC Zulia, também da Venezuela, e voltou a ser manchete pelo seu futebol. Peça-chave no esquema tático de Miguel Acosta, ele se despediu dos companheiros como o artilheiro do time na atual temporada, com 8 gols. As grandes exibições renderam-lhe a convocação para o Sul-Americano sub-20 deste ano. Mais maduro e com a técnica apurada, Orozco não só assumiu a titularidade, como também a faixa de capitão do time.

O exército de um homem só

Nas duas primeiras rodadas, os venezuelanos arrancaram empates importantes contra Uruguai e Argentina, ambos por 1 a 1. Contra a Celeste, Orozco deu a assistência para Reyes marcar. Já contra a albiceleste, o próprio Orozco tratou de fazer o dele, de cabeça. Na partida seguinte, contra os peruanos, a consagração. A Venezuela perdia por 1 a 0, quando aos 32 minutos do segundo tempo, La Perla presenteou a cidade de Arequipa com uma verdadeira obra de arte.

Ele recebeu a bola no meio-campo, e com sete toques na bola, deixou pra trás cinco marcadores e fuzilou de perna esquerda, estufando as redes. O gol à lá Maradona contra a Inglaterra na Copa de 1986, ou de Messi contra o Getafe pela Copa do Rei em 2007, não demorou a correr
o mundo inteiro.

Precisando vencer o Chile na última rodada, a Venezuela perdeu de virada por 3 a 1 e acabou eliminada, mas a projeção de Orozco no cenário mundial já estava consolidada. Segundo um de seus empresários, o jogador recebeu três propostas formais de clubes europeus: Sevilla, Palermo e Wolfsburg. A proposta vantajosa dos Lobos fez toda a diferença na escolha.

Visando facilitar a adaptação de Orozco ao futebol alemão – onde atuam os compatriotas Arango e Tomás Rincón -, o Wolfs se dispôs a arcar com casa, carro e tradutor pessoal para o jogador, além de oferecer o contrato mais largo do plantel atual do clube (até 2015). Ao que parece, a busca por um substituto de Juan Arango num futuro próximo na seleção venezuelana está encerrada.

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