segunda-feira, 14 de março de 2011

O saco de pancadas da Ligue 1

Avignon é uma cidade francesa cercada de história. Ficou conhecida entre 1309 e 1377 como “Cidade Papal”, devido ao fato da mudança da residência do papa de Roma para Avignon. Mais de 600 anos se passaram e a cidade ainda reflete o impacto deste período histórico, através de inúmeras atrações. O rio Ródano e o tradicional festival de teatro de Avignon também contribuíram para que a cidade recebesse o título de “capital europeia da cultura” em 2000.

Razões não faltam para este povo se orgulhar de sua terra. A não ser que o assunto seja futebol. É bem verdade que a origem do Arles-Avignon está na província de Arles, mas no ano passado, o clube mudou-se para Avignon e adotou o nome da cidade vizinha. A partir da temporada 2006-07, os Leões fizeram história ao emplacarem três acessos em quatro anos, alcançando uma classificação inédita para a disputa da Ligue 1.

Só que um período turbulento estava por vir. Em 27 jogos até aqui, pasmem, o Arles-Avignon venceu apenas uma partida na elite francesa. UMA. Foi há quatro meses, quando o time aplicou 3 a 2 sobre o Caen. A equipe também possui o pior ataque, a pior defesa e o pior saldo da atual temporada da Ligue 1.

É uma sucessão de recordes negativos. Com 12 pontos, o time está próximo de se tornar o pior da história da competição. Essa marca pertence ao Brest, que somou 15 pontos em 1979-80, quando uma vitória ainda valia apenas dois pontos (com as regras atuais, a pontuação do Brest aumentaria pra 19). As oito derrotas nas oito primeiras partidas da Ligue 1 também se convertem em um recorde negativo do Arles.

O único recorde negativo que o Brest 79-80 supera o Arles-Avignon 10-11 é o número de pontos somados nas primeiras 27 rodadas. Enquanto o Arles-Avignon acumula 12 até aqui, o Brest só havia feito nove (que seriam dez no atual método de pontuação). O número de vitórias dos times neste período é o mesmo: apenas uma.

Diante de um aproveitamento beirando os 14%, o rebaixamento parece inevitável. Restam 33 pontos em disputa, mas a distância para o primeiro time fora da zona da degola, o Monaco, é de 17 (mais da metade da pontuação restante). Na temporada passada, por exemplo, o Saint-Etienne escapou da Ligue 2 com 40 pontos.

E ainda que pelas atuais circunstâncias seja praticamente impossível escapar do descenso nessa temporada com essa pontuação, a situação do Arles-Avignon já seria dramática: seria necessário obter 28 dos 33 pontos em disputa para o time escapar, ou seja, vencer 10 dos 11 jogos que restam. Para uma equipe que só venceu uma partida em 27, não é necessário falar muita coisa, né?

O rebaixamento já era previsível, mas não de uma maneira tão vexatória. O investimento do clube é incomparável ao das outras equipes, além do mesmo já ter atravessado diversos problemas administrativos. Um deles por pouco não impediu o time de ascender a Ligue 1, devido a irregularidades em sua gestão financeira.

Jogadores como Meriem, Rocchi, Ghilas e Kermorgant chegaram ao clube, mas nenhum convenceu. O destaque do time, o atacante marfinense Franck Dja Djédjé, além de não ser tecnicamente encantador, encontra-se lesionado – assim como Merville, Baldé, Germany, Diawara e Ben Idir.

Outros importantes na campanha do acesso, como Andre Ayew, Benjamin Psaume e Michel Estevan, não renovaram com o clube para a atual temporada. As grandes contratações para a temporada foram os gregos Basinas e Charisteas, campeões da Eurocopa em 2004, mas o primeiro teve seu contrato rescindido dois meses após sua chegada e o segundo disputou apenas seis partidas, transferindo-se para o Schalke.

E, por incrível que pareça, as expectativas futuras do clube estão longe de serem preocupantes. O projeto de construção de um centro de treinamento já está em andamento, enquanto a comemoração do centenário do clube já tem data marcada: 19 de dezembro de 2012, com direito a exposições, publicação de um livro com a história do clube e uma noite de gala com a presença de ex-jogadores e dirigentes.

Até lá, o Arles não deverá mais estar na Ligue 1, mas leva consigo uma lição para não repetir os mesmos erros em oportunidades futuras. De qualquer forma, a inédita experiência de enfrentar as melhores equipes do país também ficará na história do clube. E, acreditem, não apenas de uma forma negativa.

Um comentário:

  1. A situação do Arles chega a ser constrangedora de tão ruim. Mesma com a briga pelo descenso estando muito equilibrada - do Sochaux, 11º colocado pra baixo, todos tem chance de cair -, acho difícil o Arles escapar.

    Sobre a conta do rebaixamento, talvez não seja preciso chegar a 40, até porque o ASSE se livrou com antecedência e o Le Mans - primeiro time na zona perigosa - caiu com 32. Mas varia de temporada pra temporada, tanto até que com os mesmos 40 pontos, o Saint Etienne escapou do descenso na temporada retrasada, com o Caen tendo somado 37 pontos.

    Abraços!

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